quinta-feira, 24 de abril de 2008

Negócios em boa forma

NOVO JOGO
Surgem no mercado franquias esportivas bem estruturadas, que revertem o quadro de amadorismo na área e oferecem chances reais

Por: Domingos Zaparolli

Quem tem afinidade com a área de esportes e vontade de transformar essa inclinação pessoal em negócio enfrentava um grande problema até pouco tempo atrás: não existiam muitas empresas realmente estruturadas para servir de modelo para quem estava começando. Embora o amadorismo não tenha poupado nem mesmo o mundo do franchising, no qual muitas iniciativas no segmento já naufragaram, há indícios consistentes de que esta realidade começa a mudar, pelo menos entre as novas franquias.

Um bom exemplo é a experiência do Corinthians, clube mais popular de São Paulo, que no final de 2000 contava com apenas 12 escolinhas de futebol licenciadas. O clube e sua parceira – a empresa norte-americana de eventos esportivos Hicks Muse – formataram a franquia Chute Inicial com a expectativa de abrir 20 unidades em um ano. Mas em dezembro último já eram 46 os franqueados. O Flamengo, time de futebol com a maior torcida do país, também formatou sua franquia, a Escolinha Fla, no final de 2000. A previsão era somar 15 unidades em 12 meses, mas já são 43. Lançada no país no segundo semestre de 2000, a franquia The Pilates Studio, uma academia americana de condicionamento físico, já conta com 12 unidades e ganhará outras seis nos próximos meses. Responsável pelo negócio no país, Inélia Garcia já faz planos para os mercados da Argentina e do Chile.

A safra de bons lances nessa área não pára por aí. A Fórmula Academia, um dos mais bem-sucedidos centros de ginástica de São Paulo, está em fase final de formatação de seu negócio e, ainda no primeiro trimestre de 2002, abrirá sua primeira unidade franqueada, em Belo Horizonte. Já a Academia Meeting Squash, de Presidente Prudente, no interior paulista, está em negociações avançadas com nove candidatos a franqueados da primeira academia de squash do mundo. Mais um exemplo de como os negócios andam aquecidos: o jogador de futebol Denílson, que atua na Espanha e teve várias passagens pela Seleção Brasileira, contratou o escritório de consultoria Vecchi&Ancona para estruturar uma franquia de escolinhas de futebol que levará o nome do craque.

A jogada mais ambiciosa na área de franquias esportivas, porém, vem de Minas Gerais. O Minas Tênis Clube, um dos principais celeiros de atletas do Brasil, inicia ainda neste primeiro semestre a comercialização de sua franquia de escolinhas em 11 modalidades diferentes de esportes, como vôlei, natação, basquete, ginástica olímpica, judô e tênis. O ex-jogador de vôlei Luiz Eymard, responsável pela franquia, informa que o objetivo do Minas é vender suas franquias para escolas particulares de primeiro e segundo graus, clubes pequenos, que não possuem tradição na formação de atletas e também para empresários dispostos a montar complexos esportivos. A franquia, em teste em dois colégios de Belo Horizonte, ainda não fechou os números de investimento do negócio. Mas, na opinião do consultor Marcelo Cherto, tem o potencial necessário para ser a principal bandeira de franchising do país na área esportiva, devido à diversidade de opções que oferece e à força e tradição da marca. Pelas escolinhas do Minas passaram 9 mil crianças em 2001, um marco na história do clube.

Dois fatores levam a acreditar que os novos players que estão entrando em campo na área de negócios esportivos terão mais sucesso que seus antecessores. Primeiro, os franqueadores estão realizando um trabalho consistente de formatação das redes. Com isso, nunca antes franquias de esportes conseguiram tantos franqueados como agora, que se mostram satisfeitos com seus negócios. É o caso de Renata Zacarias, dona de uma franquia da The Pilates Studio em Brasília. No ano passado, ela investiu R$ 54 mil para instalar uma academia em um salão de 180 m² no Lago Sul, que já conta com 55 alunos e fatura R$ 11 mil mensais, com lucro de quase 50%. 'Tive todo o treinamento e suporte necessários para montar o negócio, que é conhecido internacionalmente e atrai clientes', diz Renata, que espera fechar 2002 com 160 alunos.

O segundo fator positivo para as franquias é que o mercado de atividades esportivas está em plena ascensão. A Fórmula Academia vive seu melhor momento, com 4.500 freqüentadores apenas em sua unidade no Shopping Eldorado. A Chute Inicial soma 5.500 alunos matriculados em um ano e meio de atuação. 'A prática de esportes é uma atividade em franco crescimento', diz Maneco Carrano, proprietário da Fórmula e há nove anos no setor.

franchising_esportivo

EM ALTA – O que impulsiona esse mercado é uma mudança cultural. Nos últimos anos, as pessoas passaram a valorizar mais conceitos como saúde, beleza e bem-estar, alavancando a oferta de serviços prestados por clínicas de estética, spas, salões de beleza, clubes e academias. 'É um modismo que gerou boas oportunidades de negócios', constata a consultora Ana Vecchi. Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), empreendimentos relacionados à saúde e à estética hoje oferecem mais opções aos investidores que o tradicional segmento de alimentação.

Aparentemente, é simples montar um negócio no setor de esportes e, muitas vezes, nem se necessita de muito capital. Bastam o conhecimento da prática esportiva, o que qualquer professor de educação física tem, a compra de alguns aparelhos e a locação de uma sala ou de uma quadra. Como o mercado consumidor está aquecido, o sucesso, a princípio, estaria garantido. Mas engana-se quem confia cegamente nessa hipótese. O consumo em alta gera uma inflação de novos empreendimentos com vida curta.

A grande dificuldade é consolidar o estabelecimento. Carlos Alexandre Fabrin Boulhosa, franqueador da Academia Meeting Squash, alerta que, de cada 100 novas quadras abertas para a prática do esporte, 96 são fechadas em um ano, segundo dados da federação de squash. Há também uma grande oferta de quadras de futebol society e academias de ginástica, principalmente nas grandes cidades. Gilberto Bertevello, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Esportes do Estado de São Paulo, calcula que existam 5 mil empresas paulistas atuando na oferta de espaço e serviços para práticas esportivas.

Além da grande concorrência, há outros obstáculos na pista dos investidores do setor. O primeiro é a escolha do ponto. A falta de uma análise criteriosa do local onde será instalado o empreendimento é o principal motivo de fracasso do negócio, informa Bertevello. Na escolha do ponto devem pesar fatores como facilidade de acesso, visibilidade e amplo estacionamento. 'O mais importante, porém, é saber adequar público e características do empreendimento', diz o empresário Leonir Ebone, da Master Academia 24 Horas. Ebone, que após montar e vender cinco academias de ginástica optou pelo franchising para estruturar uma rede, alerta também que não se pode apostar no deslocamento dos freqüentadores, pois pesquisas mostram que 85% do público procura academias nas proximidades de sua residência ou trabalho.

POUCAS OPÇÕES – As empresas de esportes também sofrem com a alta rotatividade do público e a sazonalidade do setor. Nos meses de inverno e nas férias de fim de ano, a freqüência cai em até 60%. O grande número de desistências entre matriculados após alguns meses também dificulta o sucesso dos empreendimentos. Na opinião de Maneco Carrano, muitas academias de ginástica perdem freqüentadores porque oferecem poucas opções de atividades, quando deveriam proporcionar aos usuários a prática de modalidades como musculação, dança, natação, ginástica, basquete. Estar associado a uma marca conhecida também é fator determinante no setor de esportes, segundo o empresário Fábio Mancurti, que possui um complexo esportivo no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, com cinco quadras de futebol society e uma poliesportiva para locação, além de restaurante, churrasqueiras e estacionamento.

MARCA FAMOSA – Como o mercado de locação de quadras só é realmente forte no período noturno e nos fins de semana, Mancurti montou há seis anos uma escolinha de futebol para otimizar o espaço, alcançando uma média de 200 inscrições. Há dois anos, o empresário investiu R$ 25 mil em uma franquia do Corinthians, a Chute Inicial, e o resultado foi imediato: 450 alunos, que geram um faturamento mensal de R$ 15 mil.

O investidor, porém, tem de ficar atento. Ao adquirir o direito de explorar uma marca famosa ele deve certificar-se de que também estará recebendo apoio e suporte operacional. Vários times de futebol e jogadores famosos licenciam suas marcas e nomes, mas nem sempre os empreendimentos obtêm o sucesso esperado. As franquias do Corinthians e do Flamengo estão indo de vento em popa porque unem uma marca de peso com treinamento dos franqueados e de suas equipes, assim como promovem uma série de atividades que integram as escolinhas aos clubes, com campeonatos, visitas aos atletas profissionais e uma possibilidade concreta de ascensão dos alunos com mais destaque às categorias de base do clube. 'Mais de 50% dos meus alunos não são corintianos. Isto só ocorre porque a estrutura oferecida a eles é boa', diz Mancurti, da Chute Inicial. Bom sinal. Torcedores do Palmeiras e do São Paulo freqüentando escolinhas de outro time é mais uma prova de que está surgindo uma nova realidade no mundo dos negócios esportivos. Vale a pena ficar de olho no lance.

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